Posso até não conseguir, mas posso tentar

Um jantar. Foi isso que planejei — simples, mas cheio de significado. À luz da lua e cercado por velas. Descobri um daqueles lugares escondidos dessa cidade que parece viver em outro tempo. O que mais me encantou aqui foram os detalhes — janelas antigas, galhos que se curvam ao vento, o aroma de flor com terra molhada. Escolhi esse cenário para nossa noite.

Enquanto arrumo a toalha com mãos trêmulas e verifico pela terceira vez as velas, percebo o quanto estou inquieto. Há um nó no peito que só ela consegue provocar. Lys não é qualquer mulher. Ela transforma o que é comum em extraordinário. Quando sorri, o mundo desacelera. Quando olha, parece enxergar além.

Admiro o jeito como morde o lábio distraída, como franze o nariz em dúvida, como não tenta esconder quando está me observando. Apenas observa, como se isso fosse, por si só, uma forma de tocar. Gosto dela por inteiro — do que mostra e do que guarda.

Faz um mês e quinze dias desde que começamos. Parece pouco, mas foi o suficiente para eu saber que quero mais. Ainda existem muros, silêncios e hesitações. Mas estou aqui. Tentando. Porque por ela, posso até não conseguir... mas vou tentar.

Meu celular toca. Me assusto, derrubo um guardanapo, quase apago uma vela.

Oi?

Oi... tudo bem?

— Sim... já está pronta?

— Quase. Eu deveria me arrumar muito, pouco ou mais ou menos?

— Você é linda de qualquer forma. Mas se arrume como se sentir melhor.

— Teremos plateia?

— Talvez...

Joe! Isso não se faz! Posso ter um ataque apoplético!

— Ataque o quê?

— Não sei... vi em Orgulho e Preconceito.

Ela me faz rir até nos momentos mais tensos. Só espero que não esteja me comparando ao Darcy...

— Em que está pensando?

— Se você está me comparando com o Sr. Darcy.

— Ah, meu amor... você pode tentar, mas o Sr. Darcy é perfeito. Não fique chateado.

Ela ri. E eu me perco nesse som. É leve. Verdadeiro. E tudo que eu preciso ouvir.

— Jantar cancelado.

— Por quê?

— Feriu meu orgulho masculino.

— Joe... acho que me apaixono por você todos os dias. Não é possível gostar tanto assim de alguém.

Silêncio. Meu coração acelera. Ela disse mesmo?

— Que horas você me busca?

— Me diga você.

— Daqui meia hora?

— Combinado. Estou ansiosa.

— Eu mais ainda.


O tempo parece correr diferente hoje. A terra gira, os pássaros cruzam o céu, e eu conto cada segundo. Às sete em ponto, ela aparece. Sorridente. Entra no carro com a leveza de quem carrega primavera nos passos.

Vestido floral rodado, sapatos baixos, uma bolsinha delicada e um casaquinho de lã vermelho. Maquiagem suave. Ela é exatamente como imaginei. Talvez até mais.

— Podemos ir? — pergunta.

— Ainda não.

— Por quê?

— Falta algo...

Ela se inclina, olhos nos meus. A respiração morna se mistura à minha. Sinto o cheiro doce da pele, o calor da aproximação. Seus lábios tão próximos. Um sorriso brinca no canto da boca.

— O que está faltando, Joe?

Não respondo. Apenas a beijo. Porque certas coisas não precisam ser explicadas. Apenas sentidas. E esse beijo... é o começo de tudo. Uma certeza silenciosa de que, apesar dos medos, vale a pena tentar.

Me afasto devagar e respiro fundo.

— Faltava meu beijo de boa noite. Agora sim... podemos ir.

Ela cora. E fica linda assim também.

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