Estou no céu

 Eu chamaria isso de incrível... Não, é mais do que isso. É surreal. Ele fez tudo isso... para mim. Ainda não consigo acreditar. Cada detalhe carrega um cuidado que me deixa sem chão. As velas, o ambiente, a escolha do lugar — como se ele tivesse entrado no meu coração e perguntado em silêncio: “O que faria Lily se sentir amada hoje?”

Ele me observa com expectativa, como quem não aguenta mais o suspense. E eu? Continuo muda, boquiaberta. Quando, em toda minha vida, alguém fez um jantar para mim? Talvez uma vez — Karen, com aquele jeito desajeitado e doce. Mas alguém que pensou em mim desse jeito? Que me viu por inteira ao planejar um momento?

Sinto como se corresse o risco de me apaixonar sem volta. E o mais curioso é que não parece um risco — parece destino.

Joe mexe no cabelo, visivelmente nervoso, e enfia a outra mão no bolso. Seu olhar carrega uma doçura infantil.

Gostou? — pergunta, meio inseguro.

Apenas balanço a cabeça devagar, ainda sem conseguir falar. Ele sorri com alívio, mas insiste:

Isso é um sim? Por favor, diga alguma coisa... você está me matando.

Abro a boca, fecho de novo. Meus olhos ainda percorrem tudo — as luzes suaves, o perfume da noite, o som do nosso silêncio. Patético, talvez. Mas é assim que me sinto.

Amei. Está lindo... obrigada.

Ele se aproxima e me abraça com força, como se estivesse esperando esse gesto desde sempre. Então sussurra algo baixinho, como quem não quer ser ouvido — mas eu escuto. E meu coração quase para.

Me afasto. Preciso vê-lo. O rosto, os olhos, o tudo dele.

Repete.

— O quê?

Repete.

Ele sorri de lado.

Hum… Eu te amo?

— Isso é uma pergunta ou uma afirmação?

E então ele me encara. Não de um jeito qualquer. Não como quem vê maquiagem borrada ou lágrimas nos cílios. Mas como quem enxerga tudo. O que sou, como sou. Meus medos, minhas contradições, meus defeitos e qualidades... e ainda assim, escolhe ficar.

Nesse olhar há aceitação. Há escolha. E eu me sinto inteira.

Eu te amo. Tenho medo do que sinto por você, mas negar isso seria impossível. Não gosto quando você tenta resolver tudo sozinha. Me irrita seu jeito mandão, detesto ser deixado de lado... Mas amo seu sorriso. Amo todas as suas expressões. Sei quando está com medo — como agora. Sei que se sente insegura, mas admiro o quanto se esforça para acertar. Amo quando pede desculpas, mesmo achando que está certa. E não é por educação, é sincero. Amo seu humor, até o seu mau humor. Não precisa dizer que sente o mesmo — só aceita que eu te ame, agora, por nós dois... depois, a gente vê o que faz com tudo isso.

Coloco o dedo em sua boca, sorrindo. Ele fala demais às vezes. Coisas de Joe. Coisas que só existem assim... com ele sendo ele.

Talvez... eu ame você só um pouquinho.

Ele arregala os olhos e logo os semicerram, desconfiado. Sorrio. E o beijo. Porque, naquele momento, preciso mais dele do que ele de mim.

Eu diria que a comida vai esfriar... — ele comenta, sem se afastar muito.

Eu me importo. Mas hoje, não. Uma menina pode sonhar, não pode?

Pode. Com toda certeza, pode.

Fecho os olhos por um segundo. Tento guardar esse instante na alma.

De todas as imperfeições do mundo, encontrei um pedaço de felicidade que é perfeito para nós. Não importa se não dura para sempre, se houver dias nublados ou tempestades. O que temos agora é verdade. E isso basta.

Segundo Sócrates, “O ideal no casamento é que a mulher seja cega e o homem surdo.” Mas, se fosse cega, ainda veria nele tudo o que só o coração enxerga. E se fosse surdo, jamais ouviria o quanto o amo. Mesmo assim, o amaria — com tudo o que sou.

Entre todas as explosões do universo, só ouço o som do meu coração e a pulsação acelerada de Joe. De todos os dias da minha vida, trocaria qualquer um por esse instante. Onde seu corpo me aquece, onde somos inteiros — um no outro, corpo e alma. A brisa da noite nos toca, mas a eletricidade que corre entre nós nos mantém vivos.

Nunca estivemos tão conectados. E mais de uma vez, nesse mesmo momento, descubro que sim... eu o amo em todas as formas e intensidades possíveis.

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