O crescimento do amor
Enquanto Lys dorme, sei que preciso entender melhor toda essa história. Quando entro na sala, Ben discute com Claire, a mãe dela.
— Claire, como você pôde? Ela era só uma criança. E você deixou que aquele homem a criasse…
— Não fala como se fosse simples. Você sabe que não foi. Ele me ameaçou. O Gideon me tirou das ferragens, me salvou... mas quando ele soube que eu ainda estava viva, jurou que a levaria pra longe de mim, que eu nunca mais a veria. O que você faria no meu lugar?
— Não sei. Mas abandonar a própria filha? Claire, isso não tem justificativa.
— Não me julgue. Eu fiz o que achei que era o melhor. Eu estava com medo.
— Medo? Você tinha a mim, tinha o Gideon. Acha mesmo que a gente permitiria que ele tirasse a Lys de você? Por que não me procurou? Por que me deixou achando que você estava morta? Fez a gente sofrer. Fez a sua filha sofrer.
— Eu sei. E não tem um dia que eu não pense nisso. Mas eu fiquei por perto, mesmo de longe. Nunca deixei de cuidar dela, de amar ela. Só... não podia aparecer.
— Claro, amar de longe... — ele ironiza, com dor evidente na voz.
— Ben, por favor. Só tenta se colocar no meu lugar uma vez na vida. Só uma.
— Já chega, Claire — diz o pai de Joe. — Aqui não é o lugar pra isso agora.
— Mas...
Eu poderia entrar nessa discussão, dizer tudo o que penso. Mas não é minha briga. O que posso fazer é proteger a Lys disso. Garantir que não a machuquem mais.
— Joe, quer descansar um pouco? — Madaline pergunta.
— Não estou bem pra isso agora, mas... obrigado.
— Vou levar o Ben pra casa. Ele ainda tá abalado. E vou conversar com a Claire. Ela não vai ter contato com a Lys por enquanto, pode ficar tranquilo.
— Agradeço. Quero que ela descanse.
Claire fica vagando pelo hospital depois que todos saem. A semelhança com a filha é nítida — o jeito de franzir a testa, de conter o choro. Mesmo no silêncio, carrega o mesmo lado melancólico.
— Quer que eu chame alguém? — pergunto.
— Não, meu marido já está vindo. — Ela respira fundo. — Só... eu tive medo de perdê-la antes de poder dizer que a amo. Você entende isso? Eu errei. Achei que estava protegendo. Será que ela vai me perdoar?
— Acho que ela vai precisar de tempo.
— Eu espero. O tempo que for.
Queria poder dizer que sim, que vai acontecer. Mas sei que as duas estão feridas, e que certas dores precisam de tempo antes de qualquer resposta.
Volto pro quarto. Lys ainda dorme. Naquela cama grande, ela parece ainda menor, tão frágil. Poderia jurar que é indefesa... mas eu sei a força que ela carrega. Só que agora, ela não precisa ser forte sozinha.
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